POR DANI RAPHAEL
Na noite passada não foi fácil pregar os olhos e permitir-me adentrar no mundo dos sonhos. O corpo doía, a fala doía, o barulho do telefone tocando doída , e eu ali, olhando o mundo externo girar em câmera lenta enquanto dentro do meu cérebro meus pensamentos agitados causavam-me náuseas, e nem sequer tinha forças para levantar e vomitar tudo que estava piorando meu estado; doentio, febril, infértil.
As paredes aos poucos deixaram de ser brancas, embebidas pela fumaça do nebulizador e foi então que pude observar tudo que acontecia lá fora; a lua escondida entre as nuvens, a buzina do carro do vizinho, avisando sua esposa que estava chegando; o barulho do portão da casa ao lado balançando pelo forte vento, uma sirene tocando a algumas quadras daqui e uma festa interminável, em que as ondas sonoras traziam para dentro da minha sala.
Meu sofá que antes era meu canto preferido, passou a causar-me mais dores nas costas, além das que já estava sentindo: _preciso ir para cama.
A casa estava vazia, só a doença me fazia companhia, e ela fazia questão de dizer-me: _ não falei que você não tinha ninguém para cuidar de você; e quanto mais ela dizia essa frase tocando nas minhas feridas, mais eu olhava para os lados e procurava um sorriso dentro das minhas lembranças que desse-me confiança suficiente para ligar e pedir socorro, e no final não liguei para ninguém.
Não sei se não procurei direito, se não senti segurança necessário para o fazer ou se foi a música insuportável da festa que não acabava, que não permitiu que eu encontrasse esse possível alguém.
Agora estou bem, e é só isso que importa, já levantei, escovei os dentes, olhei meu rosto ainda inchado pelas lágrimas que não chorei. E agora estou aqui, na companhia da minha xícara de café amargo, pensando que talvez uma sopa fosse o ideal para o almoço, só que agora estou com fome, acho melhor levantar e fritar meus ovos, pois estou atrasada.
Imagem pexels
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